Com o advento da mobilidade elétrica, um item vem ganhando destaque e participando cada vez mais de nosso dia-a-dia: a bateria. E não é uma bateria qualquer, mas uma bem diferente da convencional, de chumbo ácido, que compõe todos os veículos à combustão. São baterias de lítio-ferro-fosfato ou LIFEPO4, com durabilidade de até 6.000 ciclos. Um ciclo numa bateria compreende o processo de carga e de descarregamento total, quando precisa ser novamente carregada. Todos os cidadãos que possuem bicicleta, moto ou carro elétrico já tem em seu dia-a-dia esta rotina de executar o carregamento da bateria de seu veículo. Assim como do celular, que também são baterias LIFEPO4. Estas baterias tem uma duração bem diferente quando aplicada aos veículos pela característica de segurança que os fabricantes impõem. Para se ter uma idéia, quando uma bateria de um automóvel elétrico é descartada, ela ainda está com vida útil de 80% em alguns de seus módulos, isto porque tais baterias são formadas por conjuntos de pequenas baterias que tem um consumo desigual no uso dos veículos. Já existem projetos no Brasil para desmontar estas baterias e remontá-las com estes “subsets” com vida útil homogênea, e aplicando-as em armazenamento de energia para consumo estacionário.
Essa pequena e sucinta introdução nos mostra então que as baterias tem outras aplicações, além do uso em veículos elétricos. Estas aplicações como baterias estacionárias, para armazenamento de energia, se estendem desde o uso em projetos de energia solar onde não existe energia elétrica, em que os painéis solares armazenam energia nas baterias durante o dia e e estas são descarregadas à noite, provendo energia para residências e equipamentos como irrigação, por exemplo, até em substituição a sistemas de backup de energia com uso de geradores à diesel. Estes aliás, são projetos que, além de economicamente viável, pois a despesa com combustível e manutenção deixa de existir e paga o investimento no longo prazo, tem a questão da sustentabilidade que endereçam as questões de ESG, cada vez mais presentes e fundamentais no posicionamento das empresas. Cabe destacar ainda que a vida útil destas baterias em armazenamento de energia pode chegar a 30 anos, dependendo de como o projeto é dimensionado.
Mas o nosso objetivo aqui neste texto vai um pouco mais além. Queremos falar com as empresas que possuem demanda contratada e consequentemente a tarifa bi-horária, ou seja, o consumo no horário de ponta e fora-de-ponta. O horário de ponta, com variações entre as concessionárias é compreendido, diariamente, entre 17 e 21 horas, por 3 horas. Neste horário, mesmo para a aqueles clientes que operam no mercado livre de energia, o custo é de até 5 vezes o valor do horário fora de ponta, dependendo da concessionária. Ou seja, para cada real consumido no horário fora de ponta, pagamos até 5 reais pelo uso da energia no horário de ponta. E é aí que entram as baterias, sem geração por energia solar. Estou falando de abastecer, de carregar as baterias de madrugada, ou logo após o horário de ponta, em que a energia é mais barata e descarregar no horário de ponta, quando é mais cara. Já tem até um nome para este tipo de projeto, chamamos de Arbitragem de Energia, ou seja, o cliente é que define que custo quer pagar pela energia consumida no seu estabelecimento.
Obviamente que um projeto desses precede um estudo detalhado da conta de energia da empresa, do tipo de consumo que tem no horário de ponta, qual a natureza deste consumo, se é demanda linear no tempo ou se tem picos de alto consumo e como seria o processo de armazenamento das baterias, se através de geração solar ou na rede da concessionária, nos horários mais adequados.
O prazo de retorno de projetos com armazenamento de energia conectado à rede tem variado entre 4 e 6 anos. Portanto são projetos que se pagam num curto espaço de tempo! Além desta economia, tem o forte apelo da sustentabilidade, o que vai ao encontro das demandas determinadas pelas políticas de ESG, como falamos acima, cada vez mais na agenda das empresas, por uma exigência do mercado consumidor, em especial para quem é exportador.